Realista
– O que queremos ser da China?
A reportagem de Keila Candido da Isto É, “O que
queremos ser da China?”, demonstra um olhar estratégico do ex-embaixador
brasileiro em Pequim, Clodoaldo Hugueney, em que ele propõe que o Brasil deva
aproveitar melhor as relações comerciais com o gigante asiático neste momento
de novos acordos entre Estados Unidos e União Europeia. Abaixo serão
demonstrados alguns trechos que demonstram um olhar mais pragmático e realista
do embaixador sobre a postura do Brasil frente a estes acordos e ao bloco do
Mercosul:
Segundo o embaixador, a recuperação chinesa é um “bom
sinal para o mundo e também para o Brasil, que tem o gigante asiático como o
principal parceiro comercial.” Para ele, “o Brasil tem de desenvolver uma estratégia
de negócio séria em relação à China e melhorar o comércio com aquele país
principalmente em áreas como celulose, milho e carne. Para Hugueney, o Brasil
deve desenvolver uma visão estratégica de médio longo prazo, mas antes disso,
devemos fazer a pergunta que dá titulo à reportagem: “E nós? O que queremos ser
da China? Queremos ser apenas fornecedores de minério de ferro e soja, ou
queremos desenvolver um outro tipo de relação com os chineses?”
Em seguida, a jornalista pergunta ao embaixador o
que ele “pensa sobre acordos comerciais
que estão acontecendo como a Parceria Transpacífico, que será a integração
econômica na região Ásia-Pacífico. Hugueney afirma que esse mega acordo está em processo inicial de
negociação, mas se isso for levado adiante, vai mudar a configuração do
comércio mundial. E o Brasil está onde? Está aqui com o Mercosul, sem saber se
leva adiante uma negociação com a União Europeia.
Hugueney
acha que é preciso ao Brasil agilizar as negociações com a
União Europeia, pois esta corre o risco de fechar um acordo com o EUA. Segundo
ele “os EUA são os maiores produtores de soja do mundo e enorme produtor de
carne do mundo, os maiores produtores de suco de laranja, milho, etanol. O
Brasil está atrasado para entrar nessa jogada. Esse acordo pode fracassar, mas
não dá pra olhar como se ele não existisse. A China vai acabar se integrando
nesses esquemas, ela não vai ficar de fora porque é altamente competitiva e
depende de comercio mundial”.
Hugueney diz que o Brasil não deva fechar as
portas para a região, “porque todo mundo está trabalhando em esquema de
integração regional, ou mais formais ou menos formais. As cadeias produtivas no
leste da Ásia estão todas integradas. Mesmo com toda disputa política entre a
China e o Japão, eles já realizaram reuniões de negociação comercial. Apesar de
ter disputas, eles sabem que a realidade econômica é urgente. A China está
agora olhando para parceria transpacífica. Ela não é membro, mas está
interessada nisso porque viu que os EUA começaram uma negociação com a Europa,
que é algo extremamente difícil de fazer. Temos acompanhar mais isso e
participar.”
Por último, a pergunta da
jornalista sobre o que o embaixador achava desta sua visão sobre o acordo dos
países do Mercosul. Hugueney pensa que o “Brasil tem de seguir com a
negociação, mesmo sem os parceiros do Mercosul. Não é mais momento para faz de
conta. Nenhum país está mais em momento de faz de conta. Ou vale ou não vale. O
Mercosul tem condições de negociar ou não tem? O Brasil não pode deixar esse
momento de negociações passar. Em um universo de cinco a dez anos esse panorama
pode mudar radicalmente.”
Para
os teóricos do neorrealismo, o que importa para os Estados são os elementos
estruturais, tais como o sistema anárquico, a balança de poder e o Estado como
o ator principal nas relações internacionais. A integração regional é vista
como um meio de obter mais poder através do jogo de alianças. As integrações
são formadas a partir de ameaças externas seja do ponto de vista político ou
econômico. De acordo com a visão do embaixador, as estruturas
de integração regional são importantes meios de alianças para superar
dificuldades econômicas e diante de ameaças externas de outras integrações
regionais, o que pode ser visto no exemplo da ligação da China e do Japão em
contraposição à possível ameaça da integração entre EUA e União Europeia. No
caso do Brasil, o embaixador diz que o país deve pensar em termos estratégicos,
e que as relações brasileiras com o Mercosul devem ser deixadas em segundo
plano neste momento, quando mudanças estratégicas globais que podem alterar
balanças de poder político e econômico estão em jogo. Esta visão do
embaixador é bastante pragmática e realista, pois pensa em melhores estratégias
para equilibrar balanças de poder econômico. Assim, a integração regional para
ele somente é viável quando trás ganhos importantes para o país. O caso do
Mercosul, que se encontra em difícil fase de evolução das negociações com a
União Europeia, o embaixador acha mais viável colocar os acordos regionais em
risco e continuar negociando já que o país pode conseguir melhores ganhos fora
do Mercosul.
CÂNDIDO, Keila. O que queremos ser da China? Disponível
em: <http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/127938_O+QUE+QUEREMOS+SER+DA+CHINA>. Acessado
em 10 de setembro de 2013.
Intergovernamentalista
– Mercosul – maiores
turbulências pela frente?
Na reportagem do Estadão de Roberto Teixeira
da Costa: “Mercosul – maiores turbulências pela frente?”, é explicado através
do ponto de vista dos empresários brasileiros a crise que a integração
sul-americana vem enfrentando nos últimos anos, quando a maioria dos atores
econômicos destes países enxergam uma inércia na evolução do bloco. Apesar de
uma maior aproximação e diminuição de rivalidade entre Brasil e Argentina desde
a criação do Mercosul, as crises econômicas da década de 1990 ainda afetam as
relações comerciais destes países.
O problema reside no fato que “Em períodos mais recentes a economia brasileira, bem
mais dinâmica que a de nossos vizinhos e com uma classe empresarial bem mais
ativa, passou a acumular expressivos saldos na balança comercial”, o que
motivou os “nossos vizinhos a passar a adotar medidas protecionistas, cada vez
mais severas, para preservar suas reservas cambiais, com forte impacto nas
exportações brasileiras.” Com isso, “não existe o mesmo entusiasmo pelo
Mercosul, sendo crescente o número de empresários, economistas e outros formadores
de opinião que defendem o abandono do bloco como união aduaneira e sua
transformação numa zona de livre-comércio. Entre outras razões, pelo fato de
não podermos buscar outros acordos comerciais sem que nossos parceiros
concordem.”
Há previsões que a Argentina
possa entrar em uma nova crise, quando há falta de confiança no país, baixo
crescimento e altas taxas de inflação. Isso pode “ampliar as barreiras
comerciais, aumentando as dificuldades de exportação” do Brasil. Essa
instabilidade econômica dos argentinos cria disputas políticas com o Brasil, o
que pode tornar o bloco cada vez mais instável. Há varias correntes a favor de
mudanças no Mercosul, como o fim da união aduaneira e a instauração do
livre-comércio.
De acordo com a perspectiva
do intergovernamentalismo, podemos ver nesta reportagem alguns aspectos da
teoria de Andrew Moravcsik. Segundo o autor, a integração regional pode ser
explicada através de três elementos principais: o comportamento racional dos
Estados; as preferências dos agentes internos dos Estados; e o processo de
barganha inter-estatal. Na reportagem percebemos que as ações estatais são
formadas a partir de preferências dos agentes, como os empresários, economistas
e formadores de opinião. Estas preferências partem do ponto de vista racional
de ganhos destes agentes, e que consequentemente são transmitidas nas ações
estatais, que através de barganhas entre Brasil e Argentina procuram
estabelecer acordos que os beneficiem mutuamente. A disputa endógena entre os
empresários formará a ação externa dos Estados, que no caso do Brasil é
procurar diminuir as barreiras comerciais argentinas, ao mesmo tempo em que
deve-se partir do ponto de vista racional, quando há indícios de uma crise
econômica que poderia acarretar maiores riscos para as relações bilaterais e do
Mercosul.
COSTA, Roberto Teixeira da. Mercosul - maiores turbulências pela frente? Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mercosul--maiores--turbulencias-pela-frente-,1071053,0.htm>. Acessado
em 10 de setembro de 2013.
As teorias Funcionalista e neofuncionalista na
União Europeia
Duas reportagens do site Jornal de Negócios
de Portugal, Inês Balbeira entrevista Antonio Vitorino (António Vitorino: “A integração europeia foi uma apólice de seguros para
Portugal”), ex-Comissário Europeu e Maria Joao Rodrigues (Maria João Rodrigues: “Atravessamos uma crise de
integração europeia”), Ex-Ministra do Emprego, evidenciando opiniões
sobre o papel de Portugal e dos principais Estados do bloco para solucionar a
crise que a União Europeia (UE) ainda não conseguiu superar.
Segundo Vitorino, além da crise econômica, a
UE vem sofrendo de uma crise de identidade, quando pode haver uma ““mutação constitucional”, onde o espaço muda mas as
“regras de jogo” ficam inalteradas” no bloco. Segundo ele, os fundos
comunitários para ajudar na crise foram benéficos, mas hoje cessaram e isso se
torna um problema para o país sair da crise. Ao contrário do período que
Portugal aderiu ao bloco, hoje ele é mais integrado e com número muito maior de
países. Assim, diante deste novo cenário, “é essencial para o país continuar
nos núcleos de aprofundamento, nomeadamente a moeda única. “É dentro do euro
que temos de vencer e é necessário permanecer na moeda única para que Portugal
recupere”, disse António Vitorino”. Em sua opinião, é importante que Portugal dê
mais atenção às relações franco-alemãs, pois elas são essenciais para o país
sair da crise.
Segundo Maria Rodrigues, há
uma “divisão profunda” na “crise da Zona Euro”, quando os “Estados-membros
devem questionar o papel da Europa enquanto comunidade política, nomeadamente a
possibilidade e a vontade de a Europa ser uma comunidade política.” Para ela,
“a União Europeia é um projeto inacabado e a atual crise que o bloco europeu
atravessa pode ser a oportunidade para acabar este projeto e apaziguar as
divisões que se fazem sentir. Uma crise pode ser uma oportunidade, mas pode ser
uma oportunidade perdida. E esta crise pode ser a oportunidade para concluir o
projeto europeu.”
Assim, podemos elencar
alguns pontos nas entrevistas que coincidem com as contribuições da teoria
neofuncionalista para Ernest Haas. Segundo o neofuncionalismo, as integrações
regionais ocorrem a parir de interesses comuns de agentes domésticos dos
Estados em relação aos agentes externos. Partidos políticos, elites econômicas,
grupos técnicos e burocracias especializadas podem promover a formação de
núcleos funcionais entre os Estados que no futuro pode levar a uma convergência
e diversas áreas, o que ele chama da spillover. Segundo ele, é este processo
que ocorreu na União Europeia (UE), quando núcleos funcionais geraram
interesses na sociedade e que levaram à criação de instâncias supranacionais de
integração entre os Estados com o objetivo de aumentar os fluxos econômicos e
bem estar das populações.
De acordo com Vitorino,
apesar de viver uma fase diferente, neste momento de crise a UE deve continuar
investindo nos núcleos de aprofundamento, que são os grupos funcionais de Haas.
Os fundos europeus de auxílio e a continuidade da moeda única são elementos que
Vitorino compreende serem indispensáveis para o não retrocesso da integração
europeia. Além disso, a criação de expectativas no sucesso das relações de
França e Alemanha para o futuro da integração é outro elemento da teoria de
Haas, quando a integração passa a criar lealdade e expectativas entre os
membros. Para Maria Rodrigues, a UE
passa por uma crise que gera oportunidade de terminar projeto de integração e
que somente através do aprofundamento de novos instrumentos, de novos núcleos
funcionais, a integração europeia poderá seguir seu curso de conclusão. Este é outro
elemento que condiz com a teoria de Haas.
O que podemos perceber é que
as ideias da teoria neofuncionais estão presentes pelo menos no cenário
político português, e que estes núcleos funcionais realmente são elementos que
podem gerar convergências e novas expectativas entre agentes de diferentes Estados.
BALREIRA, Inês. Maria
João Rodrigues: “Atravessamos uma crise de integração europeia”. Disponível
em: <http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/maria_joao_rodrigues_atravessamos_uma_crise_de_integracao_europeia.html>. Acessado
em 09 de setembro de 2013.
______. António
Vitorino: “A integração europeia foi uma apólice de seguros para Portugal”.
Disponível em: <http://www.jornaldenegocios.pt/economia/detalhe/antonio_vitorino_a_integracao_europeia_foi_uma_apolice_de_seguros_para_portugal.html>. Acessado
em 09 de setembro de 2013.
Construtivismo
na União Europeia
Na
reportagem do site Expresso XL de Portugal, Henrique Monteiro questiona o apoio
de grande parte da população portuguesa à independência da região Catalunha.
Segundo o autor, o centralismo de Madrid e o fato de boa parte das riquezas da
Catalunha serem empregadas para o sustento de outras regiões mais pobres da
Espanha (além de rivalidades históricas) são os grandes motivos do movimento
separatista que visa tornar a Catalunha um Estado-nação. Por estar mais próxima
do centro da Europa, a região catalã conseguiu se beneficiar melhor da
industrialização, e por isso goza de certa estabilidade econômica enquanto a
Espanha é um dos países mais afetados pela crise.
Nas próprias palavras de Monteiro, “na Checoslováquia, a separação da República Checa da
Eslováquia também seguiu a ideia de mais ricos (checos) a deixarem mais pobres
para trás (Eslováquia) e na Eslovênia o caso não foi muito diferente, quando se
separou como país independente da Sérvia, a que historicamente estava ligada.
Podem seguir-se a Escócia e a Flandres e assim se pode consagrar a decomposição
de uma Europa que era para ser solidária, mas que aos poucos mostra a natureza
de que sempre foi feita”. Assim, para ele a independência da Catalunha e
prejudicial para Portugal e para a UE, pois isso pode levar ao enfraquecimento
de todo o bloco europeu. Em um momento que deveria haver mais solidariedade
dentro do Continente diante da crise, há
uma tentativa dos ricos abdicarem dos problemas dos mais carentes.
De acordo com a teoria
construtivista de Emmanuel Adler e Alexander Wendt, os aspectos coletivos também
são importantes nas tomadas de decisão de agentes, no qual aspectos cognitivos,
ideias, crenças e interpretações normativas devem ser incorporadas ao
pensamento racional e materialista que domina as principais teorias vigentes. Para
os construtivistas, as instituições regionais tem o papel não só de contribuir
economicamente para as populações, mas de criar também entendimentos coletivos,
mudando o comportamento dos povos e dos Estados.
Monteiro exibe em sua
reportagem que há históricos semelhantes ao do separatismo catalão, quando uma
população mais rica não mais quer arcar com os custos de uma população mais
pobre, como o caso da Tchecoslováquia. Mesmo assim, pela ideia do autor, há um
senso de coletividade na Europa, quando se vê que o bem estar do bloco pode ser
mais benéfico que rivalidades entre vizinhos. Apesar de ser apenas o ponto de
vista do autor, percebemos que sua indignação pode ser consequência de uma
cultura de pertencimento à região europeia criada a partir da constituição da
integração econômica, mas que passa a atingir elementos cognitivos que vão além
de condições materiais.
MONTEIRO,
Henrique. A independência da Catalunha é
uma má ideia. Disponível em: <http://expresso.sapo.pt/a-independencia-da-catalunha-e-uma-ma-ideia=f830180>. Acessado
em 09 de setembro de 2013.